
Estudantes de medicina que organizam um boicote ao
exame que será aplicado no domingo pelo Conselho Regional de Medicina de São
Paulo (Cremesp) manifestaram "indignação" nesta sexta-feira com a
tentativa do órgão de evitar o protesto contra a obrigatoriedade da prova. De
acordo com o coordenador do exame, Bráulio Luna Filho, se for confirmada a
intenção de boicotar o teste, os estudantes envolvidos não terão seu registro
profissional expedido pelo conselho, ficando impedidos de exercer a medicina.
Para o estudante do sexto ano de medicina da
Universidade de Campinas (Unicamp) e um dos organizadores do boicote, Fabrício
Donizeti da Costa, a intenção do Cremesp é reprimir um direito legítimo de
protestar contra o exame. "Para combater a nossa iniciativa que tem dado
certo, geram um medo generalizado para que os estudantes façam exatamente o que
o Cremesp quer", criticou. Segundo ele, os alunos não são contra uma
avaliação para medir o conhecimento, mas não concordam com o modelo adotado
pelo conselho.
A prova, aplicada desde 2005, passou a ser obrigatória
para os estudantes do 6º ano na edição de 2012. Os formandos não precisam
acertar um número mínimo de questões, basta que participem do exame para obter
o registro. No entanto, alunos de pelo menos três universidades - Unicamp,
Unesp e Faculdade de Medicina de Marília - organizaram um protesto contra a
prova. A ideia é marcar a alternativa "b" como resposta em todas as
questões para representar o boicote.
Os estudantes, assim como as principais universidades
de São Paulo, defendem que a avaliação dos médicos seja feita de forma seriada,
com provas no segundo ano do curso, ao final do quarto e no sexto ano. "O
ideal desse tipo de avaliação é que seja seriada e no contexto de avaliação
prática, com exames clínicos de atendimento a pacientes", afirma o
secretário-geral do Centro de Desenvolvimento da Educação Médica da
Universidade de São Paulo, Joaquim Vieira.
Segundo ele, a USP apoia a realização do exame, mas
reconhece que não é a melhor forma de avaliar a qualidade da educação médica.
Tanto os professores quanto os estudantes criticam uma prova ao final do curso,
apenas com questões objetivas. "Seria paradoxal acreditar que no final do
curso seria possível avaliar de forma produtiva os formandos", diz o professor
da USP.
O coordenador do curso de medicina da Universidade
Federal de São Carlos (Ufscar), Bernardino Alves Souto, também têm restrições
ao modelo adotado pelo Cremesp, embora incentive que os estudantes façam a
prova. "Não só a prova do Cremesp, mas qualquer outra avaliação isolada
tem potencial limitado para aferir a qualidade de qualquer ensino. Essa
qualidade só tem como ser aferida com boa acurácia por meio da associação de
vários métodos e critérios diferentes, aplicados de maneira diversificada e
contextualizada", defende.
Estudantes podem entrar na Justiça contra CREMESP
De acordo com o estudante de medicina Bruno Guerretta
Belmonte, do Centro Acadêmico da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp),
caso o Cremesp confirme a intenção de não conceder o registro profissional aos
alunos que participarem do boicote, o grupo vai entrar na Justiça. "Estão
violando o direito de manifestação, de marcar a letra que quisermos em forma de
boicote".
Segundo ele, o edital da prova prevê que só serão consideradas
nulas as provas que estiverem em branco. "A exigência é apenas fazer a
prova, se eu quiser marcar todas as respostas a letra 'b' não tem problema
nenhum. Mas o Cremesp quer transformar isso em infração. Isso é impor uma coisa
que não concordamos", completou.
O exame do Cremesp é uma avaliação da formação dos
profissionais recém-graduados, composta de 120 questões objetivas de múltipla
escolha, com cinco alternativas cada. A prova deste domingo compreenderá nove
áreas do conhecimento médico - clínica médica, clínica cirúrgica, pediatria,
ginecologia, obstetrícia, saúde mental, saúde pública/epidemiologia, ciências
básicas e bioética.
FONTE: Terra
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