O senhor é a favor dessa
'importação'?
Não tenho nada contra.
Aliás, escrevi muito sobre isso em meus textos no blog do Cebes, onde critico a
resistência das corporações médicas contra os estrangeiros. Eles não resistem
apenas à chegada dos estrangeiros ao país: resistem à revalidação de diplomas
de filhos de brasileiros, de brasileiros natos que estudam no Exterior.
São vários os motivos. O
mais claro deles é a reserva de mercado. Impõem provas que mesmo os que as
elaboram são incapazes de passar. Fazem provas altamente especializadas, exigem
conhecimento sobre coisas que não são da rotina médica diária. E perguntam
sobre o que nem eles sabem responder. São exames para reprovar 90% dos
candidatos. E reprovam mesmo.
O exame de revalidação de
diplomas estrangeiros do Ministério da Educação (Revalida) é elaborado por
professores de universidades renomadas que estão politicamente decididos a não
deixar entrar ninguém. O objetivo não é filtrar profissionais para o mercado, e
sim impedir que entrem pessoas. Não há avaliação externa ao Revalida.
Quando são reprovados 90%
dos candidatos, ninguém vem a público reclamar de tamanho absurdo, dizer que no
Reino Unido ou na América do Norte uma prova assim seria reestruturada. Por que
brasileiros passam em exames nos Estados Unidos e americanos não passam no
Revalida brasileiro? É porque tem alguma coisa errada.
O decreto que o criou é
muito bom: devem ser feitas provas teóricas abrangentes e práticas conduzidas
com pacientes simulados. Mas eles dão um jeito de que os candidatos sejam
reprovados logo na entrada, na prova de múltipla escolha; nem chegam a avançar
para a prova prática. Além disso, não se renova o plantel dos elaboradores, não
é avaliado o conflito de interesses dos elaboradores.
Ou seja: uma série de
artimanhas revelam que a prova é politicamente delineada para barrar o ingresso
de médicos com o diploma do exterior no mercado brasileiro.
Há outras razões?
Há o componente
ideológico. Quando se soube que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) estava mandando filiados para estudar Medicina em Cuba para que, no
regresso, fossem atender nos rincões onde atua o MST, a direita médica se
levantou. E naquela época não para impedir a revalidação de diplomas estrangeiros,
e sim para impedir que médicos cubanos contaminassem a Medicina brasileira.
O fenômeno é antigo,
anterior ao Enem e à política de cotas nas universidades. Então, uma década
depois de formação de muitos médicos em Cuba – a maioria pobre, preta, parda, indígena –,
ainda não conseguem revalidar o diploma e trabalham como office-boy, motorista
de táxi ou continuam militando no movimento. Essa direita que não quer
modificações no Revalida é a mesma que não quer as cotas nas universidades e os
médicos oriundos dessa escola cubana.
Como começou a ideia de
trazer médicos estrangeiros?
A ideia foi lançada como
balão de ensaio após uma fala de um ministro do Itamaraty (Relações
Exteriores), que depois foi mencionada pela presidenta Dilma para depois então o
ministro Padilha sair correndo atrás, dizendo que queria fazer. E a cada vez
que ele se pronunciava sobre o assunto, adicionava uma informação nova porque
nada tinha sido combinado antes com alguém.
Não foi feito nenhum
acordo com os movimentos sociais, com os sanitaristas organizados no Cebes e na
Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), com os sindicatos, as
centrais sindicais, com os partidos. Nada. Um erro básico, na minha opinião,
não ter ouvido os movimentos que defendem a saúde pública e poderiam colaborar com um projeto
que poderia ser bom, combinar primeiro em qual contexto esses médicos viriam
trabalhar, como ingressariam, fazer o Revalida ou não.
Como não combina, acaba
dando um pano enorme pra manga de quem já era contra o ingresso de médicos no
mercado brasileiro. Digo isso porque tudo está sendo feito ao arrepio da lei.
Há sistema para formar pessoas para trabalhar no país, há decreto que diz como
se faz. E se desrespeita tudo isso, o jogo jogado não vale e começa tudo da
estaca zero. É uma ausência de costura política.
Se for para reforçar o
sistema de saúde, muito bem, mas vamos colocar as regras no jogo, as que estão
vigentes. Mas é preciso também coragem política para entrar no MEC e remodelar
a situação do Revalida, o que ninguém quer fazer para não ferir os poderes da
corporação médica. Prefere-se brigar com a mídia, fazer jogo de cena do que
enfrentar o posicionamento reacionário, retrógrado, xenofóbico e elitista do
Conselho Federal de Medicina, da Federação Nacional dos Médicos. Ninguém
enfrenta porque é preciso vontade política e articulação entre governo,
congresso e partidos.
Acho que devíamos parar
tudo e combinar as regras do jogo. O embate será grande e a chance de o governo
perder é grande. Haverá uma enxurrada de processos na Justiça contra a medida,
que vão pingar na ribalta pública daquilo que se transformou o Supremo Tribunal
Federal, com julgamentos por prevaricação, improbidade administrativa, um show
de processos e condenações. Meu prognóstico é ruim. Com o nível de resistência
política e de desarticulação, a proposta resultará em fracasso.
FONTE: REDEBRASILATUAL.COM
Concordo plenamente, estou sofrendo isso na pele a falta de vontade politica...........que pena que colocamos pessoas para trabalhar para nós......mas que vejo é trabalha para si mesmo e aproveitar previlegios.......Que façam uma politica para o bem comum, é para isso que estão à frente da população que não aguenta tanta opressão.
ResponderExcluirConcordo plenamente, estou sofrendo isso na pele a falta de vontade politica...........que pena que colocamos pessoas para trabalhar para nós......mas que vejo é trabalha para si mesmo e aproveitar previlegios.......Que façam uma politica para o bem comum, é para isso que estão à frente da população que não aguenta tanta opressão.
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