quinta-feira, 16 de maio de 2013

DEPOIMENTO SOBRE REVALIDAÇÃO DE TÍTULO MÉDICOS NO BRASIL





Devido ao preconceito e principalmente a falta de RESPEITO com quem resolve expor sua opinião no Brasil, retirei o nome do autor da postagem e publico em nome da página REVALIDAÇÃO MÉDICA.
Amigos, escutei e li muita coisa sobre revalidação de título ultimamente... escrevi um texto (grande, sim), para poder mostrar o que realmente sinto sobre revalidação de título e derivados. Se tiverem um tempo para ler eu agradeceria. Se puderem compartir, me fariam muito feliz. Um abraço a todos... Peço perdão por algum eventual erro de gramática...
Carta à quem interessar:


Nos últimos dias tenho sido testemunha de videos, reportagens e discussões sobre a revalidação de título e sobre a entrada de estrangeiros para trabalhar em caráter emergencial no Brasil. O primeiro que me chamou a atenção foi a celeridade com que os órgãos de classe relacionados à Medicina (leia-se CRM, CFM...), se pronunciaram sobre o assunto. Entendo o ponto de vista de querer que a saúde seja digna e disponível para todos. Creio que para qualquer pessoa que faz ou fez o curso de medicina esse deve ser o objetivo à ser alcançado (embora realmente creio que para muitos a coisa não seja bem assim...). Como disse várias vezes, tudo na vida tem um porque, por mais que as razões não sejam as mais dignas possíveis, elas tem uma razão de existir.

O primeiro grande fato a ser elucidado: Estrangeiros, NÃO SOMOS BEM VINDOS. Devo inicialmente dizer que incluo sob a denominação de “estrangeiros”, os não brasileiros e os brasileiros. Acabei descobrindo que ao viver e estudar medicina fora do Brasil faz com que se perca de forma compulsória a nacionalidade brasileira. Aconteceu comigo e acontece com muitos. Sim não somos bem vindos, independentemente da bandeira que carregamos conosco, somos uma clara ameaça ao atual sistema de “saúde” Brasileiro. De modo geral toda organização no mundo tem a tendência de “lutar” para perpetua-se no tempo, independentemente se é justa ou não. De forma resumida, estamos “criando problemas” por razões pouco justas, mas de forma simples, entendíveis:
1) Mercado: De modo geral, todo e qualquer mercado econômico se regula pela oferta e demanda. Facilitar a entrada de médicos de fora do Brasil, significa aumentar a oferta e consequentemente diminuir os salários dos médicos que entram e dos que já estão. Fica a primeira pergunta: Se você é médico no Brasil, vai querer que outros profissionais entrem e com isso diminuam seu salário? Acredito que a resposta seja “não”.
2) Faculdades: Nesse ponto temos uma distorção marcada. As faculdades públicas brasileiras netamente não oferecem o número de vagas suficientes para cobrir a demanda dos alunos por determinados cursos como o de Medicina por exemplo. Creio que a seleção deveria ser feita não por um exame de ingresso que avalia conhecimentos mas que não assegura a formação de bons profissionais. A seleção deveria se realizar durante a carreira e depois dessa, nunca antes dela. Mas ok, não se pode oferecer vagas à todas as pessoas já que somos quase 200 milhões? A lógica diria que as vagas em universidades públicas fossem destinadas à pessoas que REALMENTE não tem condições de pagar uma faculdade particular... Mas o que vemos é que a grande maioria das pessoas que estão nas faculdades públicas de medicina são filhos e filhas de pessoas de excelente poder aquisitivo. É entendível, já que ao fazer um melhor curso pré universitário se tenha melhor base para enfrentar as avaliações do vestibular. É tão infrequente que um aluno de escola pública aprove o vestibular para Medicina em uma faculdade pública que vira notícia de jornal.
Quanto às faculdades particulares: Têm uma mensalidade média de 3000 reais... Se imaginamos que cada turma tenha 40 alunos, estamos falando de 120000 reais mensais. Fica a pergunta numero 2: Você, dono de faculdade, com influência e dinheiro no bolso, vai querer que exista a possibilidade de cursar universidades fora do Brasil, também com um bom nível por uma fração do que você cobra no Brasil? Acho que aqui também vem um “não” como resposta.

Não sei bem definir se rir ou se me sentir triste quando vi a frase “A saúde em risco”, quando se referiam à entrada de cubanos para trabalhar no Brasil. Se o grandioso problema que gera essa discussão é a qualidade da saúde no Brasil, porque simplesmente não se realiza um exame único para TODOS os profissionais médicos que se formam no Brasil e fora dele? Li inúmeros posts durante essas ultimas semanas de médicos que trabalham no Brasil explicando às razões pelas quais não se deveria aceitar a entrada de estrangeiros no Brasil antes de passar pela revalidação. Li os comentários, alguns mais absurdos, outros menos, outros até aceitáveis. Independentemente de quais artigos, o que me chamou poderosamente a atenção foi a sistemática ausência de propostas de um exame de avaliação dos médicos que se formam dentro do Brasil. De um mar de posts de médicos formados no Brasil, nem sequer UM vê a necessidade da realização de uma prova de avaliação de capacidades teóricas e práticas? Por favor, órgãos de classe, médicos formados no Brasil, ao menos me expliquem a razão pela qual vocês acham que um exame como o da OAB não seria beneficioso para a população? Ninguém emite opinião sobre ESSE assunto, preferem o silêncio. Nesse caso o silêncio se torna muito mais cômodo que ter que dar explicações...

Em relação à revalida, sou partidário do princípio da igualdade: Ou todos façamos um exame de avaliação, ou que não o faça ninguém. Qualquer médico que queira exercer a profissão nos Estados Unidos deve passar por um exame de revalidação. A diferença com a revalidação do Brasil é que TODOS os alunos que fazem o curso de medicina nos Estados Unidos tem que se submeter aos “steps” enquanto estão cursando a carreira. No final das contas, qualquer pessoa que queira revalidar o título tem que fazer EXATAMENTE as mesmas avaliações que qualquer norte-americano teve e tem que fazer. Faço nesse caso a distinção entre Estados Unidos – desenvolvido, e Brasil – subdesenvolvido. Nos Estados Unidos vale a lei do “que vença o melhor”. Se você é suficientemente bom, não interessa de onde venha. Pessoas boas, trabalhando bem, fazem uma nação ser forte. Senhores esse é o conceito de NACIONALISMO. Fazer uma nação forte não depende de onde você nasceu, mas sim do que você pode fazer pela terra que você chama atualmente de casa. Infelizmente no Brasil ocorre justamente o contrário: “ah se você pode chegar a ser bom, vai tirar meu emprego, melhor que eles não possam vir pra cá”. Lembrem-se que gritar “Brasil, Brasil” durante copa do mundo ou olimpíadas está longe de ser nacionalismo...
Em defesa dos médicos formados em Cuba: Cuba é efetivamente um país de terceiro mundo, mas que de forma diferente de nós, se deu conta que não teria dinheiro suficiente para aplicar uma medicina que fosse dependente de exames e aparelhos caros. Se deram conta que a tecnologia da APS (atenção primária à saúde - proposta que data de 1978 pela OMS para a melhoria dos sistemas saúde pelo mundo, instituindo como base a prevenção e a medicina familiar que sozinhas poderiam resolver praticamente 80% de todas as patologias que chegam aos consultórios médicos, diminuindo custos e melhorando a saúde da população), poderia ajudar a melhorar a situação de uma população pobre e um sistema de saúde sem recursos. Senhores, por acaso a maioria dos nossos pacientes não são pobres e nosso sistema de saúde sem recursos? Enquanto alguns criticam a falta de qualidade dos médicos formados em Cuba, eu vejo que NINGUÉM melhor que eles para saberem trabalhar em condições de falta de recursos e população empobrecida. Outro ponto importante na análise de nosso país: Não é interessante investir em prevenção. Prevenção não dá grandes retornos econômicos ao médico, já a realização de intervenções cirúrgicas e procedimentos sim o fazem.
Como um dado interessante a mais, Portugal e Espanha assinaram à alguns anos atrás um acordo de cooperação com Cuba, nos mesmos moldes do que se está propondo atualmente no Brasil. De forma surpreendente, os índices de aprovação desses mesmos profissionais cubanos nas provas de revalidação de título em Portugal e na Espanha rondam a casa dos 70%. Esse dado se torna importante ao analisarmos que atualmente Portugal é considerado o 12 colocado e a Espanha 7a colocada relação à qualidade de medicina a nível mundial, ranking esse emitido pela própria Organização Mundial da Saúde. O Brasil atualmente se encontra na posição de número 125, abaixo de vários países africanos muito mais pobres que o Brasil. Analisando que os Cubanos tem uma taxa de aprovação no exame de revalidação brasileiro da ordem de 1%, comparado aos 70% dos já citados países, não é difícil chegar à conclusão de que o processo de revalidação brasileiros está LONGE de ser justo...

Vi vídeos de médicos que reclamam da falta de insumos no Brasil. Concordo PLENAMENTE que se fazem necessárias condições dignas de trabalho, para que el médico possa atender da melhor forma possível. Concordo PLENAMENTE que o governo tem uma responsabilidade imensa sobre essa problemática. Agora é necessário que cada um de nós façamos nossa parte. O governo tem a responsabilidade mas, senhores, no final das contas o governo somos NÓS. Não é possível se fazer de vítima, filmando falta de materiais nos hospitais, enquanto os mesmos médicos que filmam vão pra casa de carro importado e salários que muitas vezes ultrapassam os 30.000 reais por mês. Num país onde a esmagadora maioria da população ganha entre 700 e 1500 reais por mês, não consigo entender a razão pela qual um médico mereça ganhar 30.000. Por acaso o trabalho de um Engenheiro ou de uma Enfermeira é menos digno que o de um Médico? 10000 reais por mês já não seria um salário suficientemente bom? Imaginemos que se os mesmos médicos que ganham 30000 reais por mês passassem a ganhar 10.000. Com esses outros 20.000 se poderiam contratar outros 2 médicos não? Se um fio de aço para fixar uma esternotomia custa 50 reais, se poderiam comprar fio para pelo menos 400 cirurgias somente com esse excedente do salário de UM ÚNICO médico. A verdade é que o governo não ajuda, o povo não se manifesta e os mesmos médicos perpetuam esse sistema que não funciona. Dizem esses profissionais que não faltam médicos. Nas mesmas capitais dos estados faltam médicos nos hospitais públicos. É entendível essa falta, já que no setor privado se pode ganhar muito mais. Eu entendo perfeitamente a posição do médico em querer ganhar mais, mas... Se você escolhe não trabalhar no setor público, porque impedir que quem quer trabalhar, simplesmente possa trabalhar? Desde crianças nos ensinam que você não pode ter tudo, não pode monopolizar tudo, embora alguns não tenham entendido bem a lição. Nós, os “estrangeiros” queremos trabalhar e aprovar um exame de revalidação de título que seja antes que tudo JUSTO. Queremos ir para os lugares do Brasil onde vocês, médicos formados no Brasil não querem ir, onde suas roupas caras se sujam, seus carros importados atolam... Se vocês não querem resolver o problema, nós queremos. Não pedimos a aceitação de vocês, simplesmente que valha a frase: Se você não pode ajudar, ao menos se dê ao direito de não atrapalhar...

Infelizmente ao analisar o processo de revalidação brasileiro acaba ficando a sensação de que se trata efetivamente de uma avaliação criada com o objetivo único e específico de desaprovar, impedindo de forma aberta a entrada de estrangeiros (brasileiros ou não), independentemente da nacionalidade. Enfim, este processo de revalidação que segundo muitos (me incluo), se trata de um processo xenofóbico e absolutamente preconceituoso vivido por estrangeiros “brasileiros ou não” e que fere diretamente a Constituição Brasileira que repudia de forma indiscutível qualquer tipo de discriminação, termina tendo como objetivo final a manutenção de um sistema corrompido em que o usuário do sistema de saúde brasileiro é somente um ator secundário, frente aos reais objetivos e interesses econômicos da classe médica brasileira.

2 comentários:

  1. creio que os médicos ´´brasileiros´´ estão julgando erroneamente o revalida, uma vez que estes médicos em são paulo obtiveram péssima avaliação na prova oferecida no momento da obtenção do número no crm. concordo que os médicos formados no exterior devem passar por uma avaliação antes de atuarem no brasil, entretanto como sabemos que os formados aqui tem condições de atuarem também? e como fica a saúde da população como eles mesmos propagam, a merce de médicos sem avaliação, ou só porque se formaram no brasil são bons. me pergunto sempre se os médicos recém formados no brasil aprovariam na prova pela qual os revalidandos são submetidos (revalida), tenho certeza que seria igual o número de aprovação ou reprovação maciça; alguém já olhou esta prova? alguém já julgou esta prova? creio que não porque o nível é altíssimo, nem mesmo os médicos formados no brasil, ´´bons´´ aprovariam. é triste ver pessoas que fizeram um esforço enorme para realizar seu sonho estarem agora a merce do cfm e crm e de alunos e de médicos brasileiros (que avisam a população sobre o risco que estarão correndo). e nem sei se isto é o pior, porque uma vez que governantes contratam médicos estrangeiros para atuarem no brasil sendo que neste momento milhares de médicos formados no exterior e brasileiros natos estão em suas casas a espera de uma oportunidade de revalidação, a espera de ´´juntar´´ dinheiro para revalidar (porque isto custa caro, custa dinheiro em tradução, inscrição, procuração, viagens,...e custa o emocional destes pobres brasileirinhos esquecidos).... eu fico indignada com tudo isso, se vc for ao estacionamento das faculdades brasileiras encontrará carrões e nos sites de relacionamentos a lista de festas da medicina.... e ainda avisam a população do perigo que vão correr na mão de profissionais formados no exterior? é não ter vergonha na cara mesmo. coloca um destes alunos no exterior para se formar em medicina, para sofrer da distancia da família, para sofrer a discriminação por ser estrangeiro, enfim coloca eles lá com os mesmos mil por mês dos que vão para lá com um sonho....para viver e estudar.
    eu sempre digo que a faculdade é o aluno quem a faz, no brasil ou no exterior tem gente boa e gente ruim na medicina.. e isso sempre terá... agora devemos ser democráticos em um país que se diz democrático e aplicar prova de avaliação para todos (brasileiros formados no brasil, brasileiros formados no exterior e para estrangeiros) e ver então quem é realmente bom e apto para a profissão que lida com pessoas, pessoas que precisam de atenção, e não ser tratadas como vc e eu somos tratados quando vamos no médico no brasil, claro que no público ou nos convenios, pq se é particular é diferente o tratamento. é chama o próximo para mim, é médico que não se levanta da cadeira pra receber o paciente, é médico que não te examina, é médico que pergunta ´´que tu tens´´ e pronto já sai escrevendo a receita e é isso.... e neste caso a maioria se formou no brasil mesmo.... fica a mensagem .... devemos pensar antes de falar ou julgar, e se julgar tem conhecimento no assunto e saber como é a coisa mesmo de ambos os lados..... valeu!

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    1. Gostei de suas palabras ! E A TRISTE REALIDADE ! Como os politicos !

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