Agilidade no processo,
menos burocracia e critérios transparentes para revalidação no Brasil de
diplomas obtidos no exterior foram os pedidos dos participantes de audiência
pública que discutiu o tema, nesta sexta-feira (12), na Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional (CRE). O encontro discutiu o Projeto de Lei do
Senado (PLS) 399/2011, que trata da revalidação e do reconhecimento automático
de diplomas de instituições de ensino superior estrangeiras.
Os convidados concordaram
que, ao contrário do que propõe o projeto, a revalidação do diploma não deve
ser automática. A reivindicação é de que seja estabelecido um processo objetivo
de avaliação. Atualmente, o diploma conquistado no estrangeiro deve ser
submetido à análise de uma universidade brasileira que possua curso equivalente
avaliado e reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes). As críticas dos estudantes são de que o processo é demorado e
subjetivo, com regras que variam a depender da instituição de ensino a quem foi
pedido o reconhecimento.
O presidente da Associação
Nacional de Pós-Graduados em Instituições Estrangeiras de Ensino Superior,
Vicente Celestino de França, estimou que existam hoje 20 mil pedidos em análise
nas universidades brasileiras, em sua maioria da área de Pedagogia.
Celestino disse que o
processo de revalidação do diploma é injusto e sem critérios claros. Ele citou
como exemplo um aluno que teve o pedido de reconhecimento do diploma rejeitado
por uma universidade em Minas Gerais, apesar de o curso feito por ele no
exterior ter carga horária e conteúdo maior do que o similar nacional.
O alto índice de rejeição
dos diplomas também foi criticado pelo presidente da Associação Brasileira de
Pós-Graduando no Mercosul, Carlos Estephanio. Segundo ele, cerca de 80% dos
diplomas oriundos de países do Mercosul não são reconhecidos no Brasil. Até
mesmo a Argentina, que conquistou cinco prêmios Nobel, integraria a lista de
diplomas rejeitados.
- Parece que as
universidades não querem concorrência para seus mestres e doutores formados no
Brasil - riticou, lembrando que, no país, há estados em que não existe sequer
um doutor para cada mil habitantes, o que compromete a qualidade da educação e
de outros segmentos da economia.
– Não estou pregando a
validação automática do diploma. Só não podemos nos colocar à frente das outras
instituições de ensino do mundo. Precisamos de critérios claros de avaliação
que sejam seguidos por todas as universidades – pediu.
O medo da concorrência
também foi levantado pelo conselheiro da Câmara de Educação Superior, Luís
Roberto Curi. Segundo ele, quem deve ser avaliado não é a instituição, mas o
pós-graduado, já que será ele quem vai ingressar no mercado de trabalho
brasileiro. Ao formado no exterior, ponderou, deve ser dado o mesmo tratamento
dado aos formados aqui.
Exigência de qualidade
Para a presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Bonciani Nader, tão
importante quanto assegurar a revalidação do diploma conquistado no exterior é
garantir a qualidade da formação desses profissionais que voltam ao Brasil.
- Sem a qualidade, vamos
ser injustos com os mais de 200 mil que estão fazendo pós-graduação em cursos
do país, avaliados pelo Capes. Os diplomas de curso do exterior também precisam
ser avaliados.
Como critérios de
avaliação, Helena Nader propôs que se levasse em consideração, no caso de
pós-graduação, a produção cientifica da instituição de ensino, o numero de
doutores que possui, a existência de condições de trabalho prático, entre
outros. Para graduação, poderiam ser o número de professores e salas de aula
por docentes. Em sua opinião, as regras de avaliação de ensino no país deveriam
ser aplicadas também aos diplomas que vem de fora.
Critérios transparentes e
específicos de avaliação foram reivindicados ainda pela presidente da
Associação Nacional de Pós-Graduandos, Luana Bonone. Ela sugeriu que a chancela
da revalidação do diploma deveria ser do Ministério da Educação e não das
universidades. Isso facilitaria o processo ao reduzir, por exemplo, a
“indisposição das universidades” em assumir para si o risco da revalidação do
diploma de uma instituição estrangeira pouco conhecida.
Luana ressaltou ainda que
a busca por diplomas de pós-graduação no exterior não é mais uma demanda do
país, mas do cidadão, individualmente. O Brasil teria hoje vagas e capacidade
para atender à demanda de interessados em pós-graduações.
O presidente da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge
Almeida Guimarães, corroborou a tese de que há demanda para todos. Ele garantiu
que a Capes tem capacidade para dobrar o número de atendimentos no país, hoje
de 200 mil estudantes, e que a busca por bolsas em cursos no exterior tem caído
diante da excelência do ensino no país.
Guimarães mostrou-se
preocupado com o risco da revalidação automática do diploma, o que poderia
comprometer a qualidade dos mestres e doutores em atuação no mercado. Isso
porque, alertou, há instituições de ensino que não têm seus diplomas de
pós-graduação reconhecidos sequer pelo próprio país de origem.
Também presentes na
audiência pública, o 1º vice-presidente da Academia Nacional de Medicina,
Karlos Celso de Mesquita, e o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Paulo César Duque Estrada,
concordaram que a validação automática do diploma seria inaceitável.
Mudanças no projeto
Autor do projeto, o
senador Roberto Requião (PMDB-PR) admitiu que o texto original precisa ser
aperfeiçoado, com mudanças na previsão de revalidação automática do diploma,
entre outros pontos. O senador observou que as instituições de ensino devem
passar por avaliações periódicas, mas enfatizou a importância de se mudar as
atuais regras para dar mais celeridade aos pedidos. O senador Aloysio Nunes
Ferreira (PSDB-SP) também defendeu a necessidade de agilidade do processo.
A audiência pública foi
pedida pela senadora Ana Amélia (PP-RS), que presidiu a reunião. Ao longo do
debate, houve participação de telespectadores e internautas que, por meio do
site e-cidadania e do telefone 0800-612211 mandaram perguntas e comentários aos
convidados.
FONTE: SENADO.GOV
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