sábado, 10 de novembro de 2012

CREMESP TENTA REPRIMIR PROTESTO LEGÍTIMO, DIZEM ESTUDANTES


Estudantes de medicina que organizam um boicote ao exame que será aplicado no domingo pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) manifestaram "indignação" nesta sexta-feira com a tentativa do órgão de evitar o protesto contra a obrigatoriedade da prova. De acordo com o coordenador do exame, Bráulio Luna Filho, se for confirmada a intenção de boicotar o teste, os estudantes envolvidos não terão seu registro profissional expedido pelo conselho, ficando impedidos de exercer a medicina.
Para o estudante do sexto ano de medicina da Universidade de Campinas (Unicamp) e um dos organizadores do boicote, Fabrício Donizeti da Costa, a intenção do Cremesp é reprimir um direito legítimo de protestar contra o exame. "Para combater a nossa iniciativa que tem dado certo, geram um medo generalizado para que os estudantes façam exatamente o que o Cremesp quer", criticou. Segundo ele, os alunos não são contra uma avaliação para medir o conhecimento, mas não concordam com o modelo adotado pelo conselho.
A prova, aplicada desde 2005, passou a ser obrigatória para os estudantes do 6º ano na edição de 2012. Os formandos não precisam acertar um número mínimo de questões, basta que participem do exame para obter o registro. No entanto, alunos de pelo menos três universidades - Unicamp, Unesp e Faculdade de Medicina de Marília - organizaram um protesto contra a prova. A ideia é marcar a alternativa "b" como resposta em todas as questões para representar o boicote.
Os estudantes, assim como as principais universidades de São Paulo, defendem que a avaliação dos médicos seja feita de forma seriada, com provas no segundo ano do curso, ao final do quarto e no sexto ano. "O ideal desse tipo de avaliação é que seja seriada e no contexto de avaliação prática, com exames clínicos de atendimento a pacientes", afirma o secretário-geral do Centro de Desenvolvimento da Educação Médica da Universidade de São Paulo, Joaquim Vieira.
Segundo ele, a USP apoia a realização do exame, mas reconhece que não é a melhor forma de avaliar a qualidade da educação médica. Tanto os professores quanto os estudantes criticam uma prova ao final do curso, apenas com questões objetivas. "Seria paradoxal acreditar que no final do curso seria possível avaliar de forma produtiva os formandos", diz o professor da USP.
O coordenador do curso de medicina da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Bernardino Alves Souto, também têm restrições ao modelo adotado pelo Cremesp, embora incentive que os estudantes façam a prova. "Não só a prova do Cremesp, mas qualquer outra avaliação isolada tem potencial limitado para aferir a qualidade de qualquer ensino. Essa qualidade só tem como ser aferida com boa acurácia por meio da associação de vários métodos e critérios diferentes, aplicados de maneira diversificada e contextualizada", defende.
Estudantes podem entrar na Justiça contra CREMESP
De acordo com o estudante de medicina Bruno Guerretta Belmonte, do Centro Acadêmico da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), caso o Cremesp confirme a intenção de não conceder o registro profissional aos alunos que participarem do boicote, o grupo vai entrar na Justiça. "Estão violando o direito de manifestação, de marcar a letra que quisermos em forma de boicote".
Segundo ele, o edital da prova prevê que só serão consideradas nulas as provas que estiverem em branco. "A exigência é apenas fazer a prova, se eu quiser marcar todas as respostas a letra 'b' não tem problema nenhum. Mas o Cremesp quer transformar isso em infração. Isso é impor uma coisa que não concordamos", completou.
O exame do Cremesp é uma avaliação da formação dos profissionais recém-graduados, composta de 120 questões objetivas de múltipla escolha, com cinco alternativas cada. A prova deste domingo compreenderá nove áreas do conhecimento médico - clínica médica, clínica cirúrgica, pediatria, ginecologia, obstetrícia, saúde mental, saúde pública/epidemiologia, ciências básicas e bioética.
FONTE: Terra

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