Para estudantes, avaliação que passa a ser obrigatória para formados em São Paulo é insuficiente e não contribui para qualidade do ensino.
Estudantes do curso de medicina da Universidade de Campinas (Unicamp) decidiram em assembleia na última semana boicotar o exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), que será realizado em 11 de novembro. No site do centro acadêmico há um abaixo-assinado contra a avaliação. Os representantes do centro acadêmico alegam que a prova, que passa a ser obrigatória em 2012, não é capaz de avaliar os alunos e melhorar a qualidade do ensino da medicina e da saúde brasileira.
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“As 120 questões de múltipla escolha não abrangem o tamanho e a complexidade do curso médico. Do jeito como o exame é feito, acaba punindo o aluno mal formado sem dar a ele perspectiva”, afirma Henrique Sater de Andrade, aluno do último ano e representante do centro acadêmico. Para o grupo, uma avaliação nesses moldes pode criar uma cultura nas faculdades que privilegie os macetes em detrimento do conhecimento curricular. “O exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não melhorou a qualidade dos advogados no País, só criou um funil. E aparecem cada vez mais faculdades que agem como cursinhos e preparam apenas para a prova da OAB”, diz Andrade.
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O exame do Cremesp, que durante sete anos foi opcional, avalia médicos recém-formados no Estado de São Paulo. Os alunos receberão um boletim com o desempenho individual, mas a nota não é requisito para obter o registro profissional. As faculdades também irão receber o relatório de desempenho dos seus alunos, comparado com as notas médias de todos os participantes, mas será divulgado somente o resultado geral. A intenção dos alunos contrários ao exame é marcar a alternativa “B”, de boicote, em todas as alternativas.
Para Andrade, uma avaliação efetiva, segundo os alunos, deveria ser feita anualmente, contemplando também questões práticas, pela própria faculdade ou órgão credenciado. O estudante ainda critica a falta de envolvimento do Conselho em discussões com as faculdades e outros órgãos. “O Cremesp nunca se preocupou em debater a educação com outros setores como o MEC e a Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), que é contrária à prova”, diz.
Em contrapartida, o coordenador do Exame do Cremesp, Bráulio Luna Filho, afirma que a prova segue uma metodologia internacional aplicada com sucesso em países como os Estados Unidos da América e o Canadá. “Não estamos criando nada, a prova é baseada em questões que avaliam o raciocínio médico e a abordagem terapêutica. O que estamos verificando é se o aluno aprendeu o mínimo possível nesses seis anos de formação”.
Para Luna Filho, uma avaliação externa como a do conselho pode ajudar as faculdades e o governo a enxergar seus pontos fracos. “O cerne do problema é que as escolas têm que saber avaliar e elas têm feito isso muito mal. E o MEC também não está dando conta. Uma avaliação verdadeira tem que ter uma combinação da avaliação da escola com uma externa”, defende.
O Cremesp, inclusive, defende a criação do projeto de lei 217/2004, do Senado Federal, que criaria o Exame Nacional de Habilitação para médicos, pré-requisito para o exercício da profissão. Luna Filho também não acredita que a avaliação crie um sistema superficial que favoreça o aparecimento de cursinhos preparatórios. “Não há esse risco. O que vai acontecer é as pessoas estudarem mais, inclusive pra essas provas”, diz.
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