quarta-feira, 17 de setembro de 2014

MAIS MÉDICOS: As razões do ódio de alguns médicos ao programa Mais Médicos


DIÁRIO DA MANHÃ
MANOEL L. BEZERRA ROCHA

Por que o programa “Mais Médicos” do governo federal desperta discussões tão acirradas? Existe uma sanha obstinada para alijá-lo ao anátema que quase se leva a crer que os seus oponentes têm razão em abominá-lo. O que há por trás dessa implacável campanha capitaneada por um batalhão considerável de médicos que, de tanto vituperarem, conseguem aliciar um grande número de séquitos e simpatizantes incautos? Antes, convém recordar, a ira foi dirigida aos próprios médicos estrangeiros que aqui desembarcaram.

Em São Paulo, uma médica brasileira referiu-se a uma cubana como “médica com cara de empregada doméstica”; Em Fortaleza, um médico cubano foi epitetado de “negro escravo”. As agressividades esbarraram na pronta reprovação da opinião pública. Por esta razão, tiveram que inventar novos pretextos para continuarem com os ataques ao programa “Mais Médicos”. Desta forma, os médicos brasileiros perdem-se em seus cipoais de incongruências: ora fingem que estão preocupados com os médicos estrangeiros que, sem garantias trabalhistas, estão sendo submetidos ao “trabalho escravo”, ora alegam estar preocupados com a saúde da população carente. Esta é, de todas, a mais bizarra. Desde quando a saúde da população carente foi motivo de preocupação por parte da elite médica brasileira? O governo federal somente contratou médicos estrangeiros porque os médicos brasileiros não dão a mínima para a população pobre, notadamente a das regiões Norte e Nordeste. Alegam falta de estrutura e que o governo deveria investir mais na formação de profissionais de saúde. Mas há, sim, vultosos investimentos em saúde no Brasil. O problema é a corrupção. E esta se dá em todos os níveis da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive (e principalmente) por parte de muitos médicos, aos prescreverem remédios e exames em demasia e desnecessariamente, em conluio tanto com os laboratórios de análises clínicas quanto com a indústria farmacêutica. Sem contar a “indústria da judicialização” do atendimento à saúde, onde médicos indicam como tratamento remédios de alto custo não disponibilizados pelo SUS e encaminhamentos para hospitais de outros países. Por isso muitos médicos são premiados com viagens, hospedagens, participação em congressos, etc, pagos por laboratórios. Recusar a prestação de serviços médicos em regiões carentes, mesmo sendo remunerado é uma perversidade e uma ingratidão. Perversidade por demonstrar absoluto desprezo à vida, conduta oposta aos juramentos de Hipócrates; Ingratidão porque, grande parte dos médicos brasileiros formou-se em universidades públicas e gratuitas, às expensas do contribuinte, inclusive do pobre cidadão a quem lhe é negado o atendimento médico básico. Argumentam que a vinda de médicos estrangeiros vai tirar o emprego do médico nacional.  Mentira! Os médicos estrangeiros só são encaminhados àqueles lugares onde os médicos brasileiros se recusam a prestar seus serviços. Por outro lado, não há nenhuma notícia de que há médicos desempregados em razão da vinda dos estrangeiros. Voltando à questão da ingratidão, o Estado do Pará, por exemplo, possui três faculdades públicas de Medicina. A finalidade seria a formação de médicos para atender a população pobre da Região. Entretanto, mais de sessenta por cento dos que se formam são de outros Estados, principalmente do Centro-Oeste, Sul e Sudeste que, ao final do curso, retornam aos seus Estados de origem e abominam qualquer ideia de prestação de serviço à população da região onde se formaram. Ao invés disso, miram seus estudos de pós-graduação no exterior, novamente às custas do Erário, com bolsas de estudos financiadas através do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Muitos desses bolsistas são classificados como “golpistas”, pois, ao concluírem suas especializações, optam por permanecer no exterior, deixando o contribuinte brasileiro, mais uma vez, sem o retorno para o qual investiu. O percentual de médicos estrangeiros no Brasil é ínfimo, chegando a 1,7%. Na Inglaterra são 37%, nos EUA, 25%. O Canadá também conta com um grande contingente de médicos estrangeiros, muitos dos quais, brasileiros que se formaram no Brasil, em universidades públicas e gratuitas. O presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) não escondeu essa cultura de um significativo número de malandros que se vestem de branco. Segundo ele, “bons médicos querem trabalhar no primeiro mundo”. Não haveria nenhum problema nisso, se não fosse um detalhe: Vão chegar prontinhos para serem úteis às políticas de saúde de outros governos, em outros países, sem que estes tenham tido nenhum gasto na formação desses médicos. Uma pessoa para se formar em Medicina nos EUA, por exemplo, deve desembolsar em torno de uns 100 mil dólares. Em raríssimas exceções, o governo financia os estudos de quem é comprovadamente pobre, mas este deve ressarcir o financiamento após a formatura. Em sociedades com baixíssima evolução civilizatória, sentimentos primitivos de ódio e sadismo sectários são muito recorrentes como forma de referencial social. É dizer: submeter o semelhante às mazelas, caprichos, angústias e humilhações, constitui o sinal mais convincente de sensação de ascensão e sentimento de superioridade. Talvez reside aí a explicação fenomenológica que justifica tanta execração ao programa “Mais Médicos”. É o ódio sádico diluído da bílis de muitos médicos contra a população brasileira carente. Tão miserável, mas tão útil ao ciclo vicioso que sustenta tantos interesses corporativistas, numa simbiose funesta.


(Manoel L. Bezerra Rocha, advogado criminalista - mlbezerrarocha@gmail.com)

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